28 de ago. de 2008

ESSA É UMA ÓTIMA NOTÍCIA E EU FAÇO PARTE DELA

Terceira idade se rende às facilidades tecnológicas, como microondas e computadores com acesso à internet

Assistir TV é uma prática unânime entre 93% dos idosos brasileiros, segundo a Fundação Perseu Abramo. Helena Junqueira de Carvalho certamente faz parte dos 7% que ficaram fora dessa estatística. Por outro lado, ela integra os 10% dos idosos que costumam utilizar computador no dia-a-dia e os 4% que navegam pela web. Hoje com 76.8 anos de idade - como faz questão, ressaltando também a quantidade de meses 'bem vividos' -, Helena engrossa a modesta lista da terceira idade que se rendeu às facilidades tecnológicas, como microondas e computadores com acesso à internet. Embora ainda com algumas restrições, eles não temem a experiência do aprendizado.

'No começo, eu ligava para minha professorinha (de informática) quando o computador travava. Por telefone, ela me mandava fechar as janelas para ver se melhorava e eu perguntava: fecho as cortinas também?', conta, rindo da situação.

Como ela, muitas pessoas da terceira idade encaram o aprendizado básico da informática geralmente com dificuldades iniciais, mas a prática, como em tudo, pode aproximar da perfeição. Para Maria Luiza Gomes Zolini, 61, o grande vilão do equipamento era o mouse. 'Eu tinha medo de usá-lo, pois achava que o cursor ia sair fora da tela. E como fazer para colocá-lo de volta no lugar?', recorda, também rindo muito. 'Usar o mouse exige uma coordenação motora muito fina', afirma a supervisora de ensino aposentada, mostrando ainda certo receio com a aparente fragilidade do aparelho.

Mas há quem pense que computador e internet têm utilidade limitada aos jovens. Maria Lúcia Pestana, 82, pensa assim. Vizinha e amiga de Helena, no Lar dos Velhinhos de Piracicaba, a secretária bilíngüe aposentada resiste bravamente até mesmo a se aproximar da máquina quando vai visitar a amiga. 'Isso aí é um problema médico. Logo ela vai precisar ligar para o médico e dizer: doutor, estou com-puta-dor', brincou com o fato da amiga se dedicar todos os dias, por algumas horas, aos e-mails que recebe e envia.

Por conta dessa facilidade, Helena nem se lembra da última vez que escreveu uma carta. Os e-mails com notícias breves e aqueles com mensagens em power point. 'Recebo e-mails maravilhosos e encaminho para quem sei que também gosta. Tenho uma lista de endereços muito grande, sabia?', diz. Namorar virtualmente, nem pensar. 'Nem cara-a-cara encontrei, você acha que vou encontrar pela internet?', ri.

Sua relação com a rede é das melhores, tanto que Helena precisa se policiar para não ficar plugada além das 23 horas, horário que estabeleceu para dormir. 'Outro dia fiquei até a meia-noite e meia!' Um dos motivos da perda de hora são as pesquisas feitas por ela nos sites de busca. Depois dessa descoberta, afirma, nada mais fica sem significado. 'É um mundo maravilhoso. Se alguém me diz que estou com sintomas de Parkinson, vou procurar na internet para questionar o médico. A minha geração viveu a era do progresso e a internet é um progresso que assusta. Tem gente da minha idade que acha que internet e computador são para a juventude, mas se estamos vivos e não temos Alzheimer, podemos aprender', fala.

VIA PRÁTICA. Maria Luiza levou 10 anos para decidir abandonar a máquina de escrever e a calculadora pelas facilidades dos velhos DOS e Lotus 1, 2, 3, programas popularizados na década de 90, espécies de 'pais' do Windows e do Excell. Foi procurar uma das escolas de informática que pipocavam na cidade na época e, aos 45 anos, dividia a classe com um grupo de adolescentes na faixa dos 10 aos 12 anos - que a socorriam nas necessidades tecnológicas.

Em casa, o socorro vinha do filho jovem e foi por causa dele que, anos mais tarde, Maria Luiza transformou a internet em sua maior aliada. A necessidade de visitar o filho em Londres, levou a atrevida e insistente mãe a aprender na raça a usar a ferramenta eletrônica com praticidade. 'Pesquisava, fazia contatos, usava comandos que nem sabia para que serviam, mas eu anotava tudo em um caderninho para não esquecer', falou.

Se resolvesse colocar as idéias em um livro, Maria Luiza contaria como, pela internet, aprendeu a fazer transações bancárias de maneira segura, comprar passagens aéreas para a Europa, reservar hotéis na Espanha e Inglaterra, alugar o carro que usaria em Portugal, fazer contatos com mochileiros para conhecer as melhores e mais econômicas dicas de passeios, hospedagem e gastronomia. 'Virei um cisco! Quando fui viajar, imprimi tudo, levei digitado cada plano e deu tudo certo. Perdi o medo do computador e da interenet e minha vida hoje é bem mais confortável. Converso todos os dias com meu filho pelo MSN para diminuir a saudade', informa.

Hoje, quando precisa ainda de alguma dica, Maria Luiza pede à neta de 4 anos de idade, que tem muita facilidade para coordenar o mouse. As amigas dela ainda resistem à 'tanta tecnologia' e termos como o nome do maior site de pesquisas virtuais do mundo, o Google, ainda são um mistério a ser desvendado. 'Elas dizem: já vai naquele Gó-ó-glê', disse. 'Nunca imaginei que o mundo estaria nesse nível de sofisticação, que a gente poderia ver o Japão em tempo real através de uma tela. Eu acabei de comprar um geladeira pela internet!', vibra.
Maria Luiza avisa que, embora goste de ler as mensagens que recebe em power point e repassar para quem ela acha que também irá gostar, não gosta de correntes virtuais. 'Quebrar correntes é comigo mesma', avisa.

O computador e os idosos

De acordo com a pesquisa da Fundação Perseu Abramo: 90% dos idosos brasileiros já viram um computador; 10% utilizam o computador sempre e 7% eventualmente; 64% afirmam saber o que é internet; mas apenas 4% navegam na rede sempre e 3% eventualmente; 29% têm interesse por computador e 24% se interessam pela internet.

Outras atividades como cantar, jogar (dominó, cartas ou xadrez) ou mesmo as atividades manuais, como bordado e tricô, mobilizam parcela razoável de idosos (23%, 19% e 16%, respectivamente). O canto e as atividades manuais são práticas acentuadas entre as mulheres, enquanto os jogos são preferidos pelos homens.
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